Pinus densiflora: "restyling"

Olá Pessoal!

É um enorme prazer colocar neste fórum a minha primeira mensagem. E para isso escolhi um trabalho que é para mim especial.

Trata-se de um pinheiro vermelho japonês de yamadori, bastante antigo (para os que se interessam por essas coisas, deve ter cerca de 150 anos). A árvore não é minha, mas foi-me graciosamente concedida permissão para alterá-la como eu quisesse. Aqui está o aspecto da árvore antes de qualquer tratamento:



Peço desculpa pela qualidade da foto, mas não tive oportunidade na altura de fazer melhor. A planta estava com um estilo semi-cascata que resultava, no entanto acho que faltava equilibrar adequadamente o dinamismo da composição. O movimento para a direita era muito forte, a massa verde demasiado densa e a árvore dava a sensação de estar prestes a cair.

Depois de analisar a árvore achei que a melhor solução seria alterar o ângulo do tachiagari, inclinando a árvore para a esquerda. O estilo passaria a ser inclinado com uns trejeitos de literati. A massa verde teria de ser reduzida. Decidi avançar e o resultado foi este:



Alguns detalhes adicionais:



A árvore continua com grande dinamismo, mas mais equilibrada (na minha opinião). Optei por um equilíbrio estático (reparem nos dois ramos laterais com massa verde mais ou menos à mesma altura) para equilibrar de certa forma o movimento dramático do tachiagari, mas a verdade é que não estou certo de que foi a melhor solução. Gostaria de saber os vossos comentários.

Foi feita uma selecção dos novos rebentos deixando apenas dois não muito vigorosos em cada extremidade. Para além disso, todas as agulhas do ano anterior foram gentilmente arrancadas dos ramos mais vigorosos (nos mais fracos, por exemplo o ramo mais baixo da direita, não se arracou nenhuma agulha).

O novo ângulo de plantação não deverá trazer problemas para as raízes e deverá ser possível adoptá-lo já no próximo transplante, previsto para Março de 2010.

Um pormenor importante, porque diz respeito à saúde da planta: esta estilização foi feita em Setembro e a árvore tinha sido sujeita a meikiri agressivo em quase todos os ramos durante o mês de Junho (agressivo no sentido em que quase todas as velas foram simplesmente arrancadas!). O pinheiro respondeu bem, lançando novos rebentos que na altura da estilização estavam muito frágeis. Após analisar os arames já existentes na árvore, optei por deixá-los lá ficar uma vez que não estavam a marcar. Seria muito arriscado para a saúde da planta colocar arames nessa altura do ano e é por essa razão que alguns ramos não estão ainda na sua posição final. Os rebentos e agulhas novas dos akamatsu são extremamente sensíveis e moles. Para além disso, a árvore ainda não tem um aspecto final porque os pinheiros devem ser trabalhados com calma. Para além das razões de saúde da planta, as estilizações rápidas são perigosas a nível estético: esta árvore passou muitos anos com o estilo anterior e ao mudar-se esse estilo num dia apenas corre-se o risco de não ver o panorama global. Precisamos de tempo para nos adaptarmos às alterações estéticas e para as reavaliarmos continuamente com o objectivo de retirar da árvore o máximo potencial possível.

O lado direito:



O esquerdo:



A casca e o fantastico tronco:



Aqui vê-se um dos paus de bambu que são muito usados no Japão para afastar ramos:



A árvore vai ficar com 44cm de altura a contar da borda do vaso. O tamanho ideal para um chuhin-bonsai, o que valoriza o novo design.

Infelizmente não será fácil continuar a acompanhar a evolução desta planta, ela está no Japão. A continuação do projecto está a cargo de Oyakata Urushibata e dos próximos alunos de Taisho-en.

Obrigado pela vossa atenção.

Cumprimentos,
Pedro

Boa noite Pedro

Fantástica árvore! Movimento dinâmico do tronco e excelente casca e agulhas!
A sua escolha de uma nova forma é interessante.
Se me permite julgando pelas fotos penso apenas que o ramo do lado direito poderia ter sido colocado um pouco mais baixo para aumentar o dinamismo da forma, reflectir o angular movimento do tronco e contrabalançar as primeiras curvas do lado esquerdo do Tachiagari.
Digo isto porque acho que depois da formação a árvore ficou demasiado ajuízada perdendo um pouco do seu carácter selvagem que lhe dava muita liberdade.
O ápice na minha opinião deveria (visto lateralmente) vir um pouco mais para a frente e acho o ramo traseiro visto da lateral demasiado volumoso e presente desequilibrando o todo.
Não quero com isto tirar valor ás suas opções,ou á beleza desta árvore,estou apenas a dizer o que me saltou á vista.
Deveras será um privilégio trabalhar com árvores de tanta qualidade e algumas escolhas e interpretações são muito pessoais.
O certo é que pondo 10 pessoas a trabalhar uma tal árvore teriamos certamente 10 desenhos diferentes.
Pena que um tal "bicho" tenha ficado tão longe...

Olá Rui!

Obrigado pela sua resposta. A árvore é realmente fantástica. Muito discreta, por não ser exactamente o que está na moda pela Europa, mas com uma elegância e um carácter...

Se me permite julgando pelas fotos penso apenas que o ramo do lado direito poderia ter sido colocado um pouco mais baixo para aumentar o dinamismo da forma, reflectir o angular movimento do tronco e contrabalançar as primeiras curvas do lado esquerdo do Tachiagari.

Claro que permito, a ideia é mesmo essa!
Concordo consigo, isso não foi feito porque o ramo da direita é extremamente quebradiço e é bastante grosso. Seria preciso aramá-lo com cobre de médio calibre e poderia haver danos difíceis de reparar nesta altura do ano. Ainda por cima esse ramo é o menos vigoroso da planta. De qualquer forma, a minha ideia era a mesma que a sua e fico satisfeito por saber isso... reforça a validade da minha opção.

O ápice na minha opinião deveria (visto lateralmente) vir um pouco mais para a frente e acho o ramo traseiro visto da lateral demasiado volumoso e presente desequilibrando o todo.

É uma boa observação e concordo consigo. Seria uma coisa para alterar aos poucos.

Pena que um tal "bicho" tenha ficado tão longe...

Ou não, vejo isso como uma boa desculpa para lá voltar.

Cumprimentos,
Pedro

Viva Pedro!

Não é preciso reforçar mais o excelente carácter desta árvore, já o Rui e o Ivo o mencionaram!

Além do que eles dois disseram referente ao que seria "melhorável" em relação á arvore e que de certeza a melhorariam ainda mais, a minha maior dúvida em relação ao rumo escolhido por ti no projecto, prende-se com a alteração radical do ángulo de plantação da árvore no vaso!

Será que não irá trazer problemas futuros ao nivel do nebari? É exequivel!? Pois com o vaso na sua posição original, vemos um nebari mais ou menos radial, será que ao levantar a árvore dessa forma não irás perder nesse aspecto ou mesmo tornar um pouco dificil a plantação no novo ângulo! Se traçares um linha imaginária tangente ao nebari, verás que na parte da frente terá que enterrar totalemente o nebari e da parte de trás poderás ainda assim ficar com muitas raizes importantes acima da linha referida!

Como é evidente, eu estou a fazer um juizo pelo que vejo na foto, concerteza com a planta ao vivo poderia ter outra percepção, qual é a tua opinião sobre o assunto?

Cmpts,

Mário Eusébio

Olá Pessoal!

Ivo:

A tua solução agrada-me bastante! Descobri recentemente que minha tendência pessoal é de colocar mais algum peso no lado para onde aponta o movimento do primeiro terço do tronco. Normalmente o meu ramo principal acentua esse movimento. Acho que a tua solução resulta também muito bem e é muito interessante ver o que pessoas diferentes fariam ao mesmo material. É daí que vem a diversidade no bonsai, suponho.

Mário:

São comentários muito pertinentes, obrigado!

A intenção na altura foi optar por uma nova solução estética que fosse realista e não um mero exercício académico. As raízes mais grossas do nebari pareceram-me suficientemente flexíveis para serem reposicionadas na altura do próximo transplante sem trazer consequências para a saúde da planta (que é sempre o principal objectivo). Estou convencido de que a nova disposição do nebari, apesar de não ser tão radial como a anterior, favorecerá o design. Claro que pedi a opinião a Oyakata e ele analisou a questão das raízes e do novo ângulo e respondeu: "OK!"

A parte das raízes que ficará acima da linha do nebari deverá ser apenas cerca de 1/3 a 1/4 do volume total de raízes - aquilo que é normal podar na altura de um transplante. Certezas mesmo só na altura do transplante, mas parece-me que não haverá problemas... e se os houver, pode-se fazer a coisa por passos, ao longo de uns dois anos.

Já agora, e vaso - alguém tem ideias?

Abraço,
Pedro

Viva Pedro!

Se foi uma decisão ponderada com o Sensei concerteza ele conhecerá melhor que ninguém a árvore e se concordou com a opção é porque ele tem a certeza de conseguir dar "a volta" ao nebari!

Quanto a vasos, penso que um redondo por esmaltar e baixo será a melhor solução, se será rustico ou não será mais uma questão de gosto pessoal, mas acredito que o Sr. Urushibata vá optar por algo mais clássico !

Cmpts,

Mário Eusébio

Olá Mário!

Eu também iria por um redondo, bastante rústico e há muitos por onde escolher no catálogo Tokoname. Oyakata falou-me num bastante clássico, quadrado, e depois disso não voltei a pensar muito no redondo.

Tenho que explorar os catálogos à procura de um vaso para este aka, a ver se encontro algo que seja mesmo perfeito.

Abraço,
Pedro

Olá a todos,

A minha opinião vai ser sem dúvida polémica, mas eu não tinha mexido no original, pois pessoalmente gostava muito da disposição original, acho que apenas refinaria a massa verde. Com isto não quero em nada tirar todo o mérito do trabalho do Pedro, pois sem dúvida alguma foi um trabalho de qualidade.

Quanto ao vaso, optava por um redondo da Tokoname com ar que estava meio partido, um bastante dramático pois acredito que esta árvore com 150 anos tem "musculo" para tal dramatismo, olhar aquele tronco com ar de "mil folhas" e pensar os 150 anos de história que carrega nos ombros só isso já é uma experiência...



O exemplo que deixo, não é o perfeito, mas seria algo deste tipo, talvez sem os pés...

Abraço,

Olá David,

Polémica porquê? Tens direito a uma opinião...

eu não tinha mexido no original, pois pessoalmente gostava muito da disposição original, acho que apenas refinaria a massa verde.

Claro que a disposição original não estava nada mal, senão a árvore não estaria em Taisho-en. Acho que este é daqueles trabalhos em que é sempre discutível se a árvore ficou melhor - a resposta a esta questão depende muito do gosto pessoal de cada um.

Obrigado pelos teus comentários.

Pedro

P.S. - a propósito, para quem quiser apreciar o nível das árvores do viveiro de Oyakata Urushibata o link é este (está em japonês mas consegue-se navegar): http://taishoen.org/

Tenho de te dizer que o teu Pinus é espectacular..que movimento..que casca..
Cumprimentos

Olá Nuno,

Obrigado pelas simpáticas palavras. O pinheiro não é meu, infelizmente...

Cumprimentos,
Pedro

Olá,

Quanto mais visito este tópico e quanto mais olho para o teu trabalho, mais vou simpatizando e provavelmente hoje já acho que após o teu re-style a árvore ganhou com isso, pois cada vez mais vejo o seu futuro e embora o presente seja bom, começo a sentir que o seu futuro é ainda melhor após o teres modificado.

Mais uma vez Parabéns,

Olá David,

Obrigado pelos teus comentários.

Um abraço,
Pedro

Olá Pessoal!

Afinal é possível fazer uma actualização deste post. O Jose Acuña, de Tenerife, está neste momento em Taisho-en e fez o transplante do pinheiro há poucos dias. O resultado pode ser visto aqui:

http://bonsaisur.forumotion.com/centro-bonsai-tenerife-en-japon-f30/centro-bonsai-tenerife-en-japon-t2434-875.htm

Fiquei feliz por poder acompanhar mais um passo na evolução desta árvore fantástica.

Cumprimentos,
Pedro