Acer Palmatum 'deshojo' - o primeiro bonsai

Ainda que muito no início desta arte, e embora não tenha nada de impressionante para vos mostrar, quero compartilhar convosco a evolução da minha primeira pré-bonsai, um Acer Palmatum ‘deshojo’ adquirida em fevereiro de 2011.
Assim era quando a comprei:


Tive então a perfeita noção que pese embora o encanto da sua cor e da etiqueta indicar “9 anos”, não tinha ali mais que uma estaca que me poderia servir para começar a aplicar o muito que já havia lido...
O momento para um transplante tinha passado, pois encontra-se já em plena atividade, mas como sabia que ela tinha muito que crescer resolvi proceder a um “falso transplante” mudando-a para um vaso bastante mais generoso. Evidentemente, como é característico de qualquer novato, não consegui ficar quieto e até ao fim de junho fui praticando um pouco a técnica do metsumi, até que a defoliei, pois parecia que as folhas estavam demasiado grandes. Para minha surpresa o defoliamento não provocou a redução de folhas esperada (diga-se de passagem que a havia adubado completa e generosamente), provocou sim uma explosão de brotos que mais tarde me dificultaria muito a compreensão da forma da árvore. Depois de junho, já não lhe toquei mais e só voltei a adubar a partir de setembro.
Em dezembro, observei muitas vezes aquele “emaranhado” de ramos quase despidos até conseguir entender como é que lhe podia mexer, (ou ganhar coragem para o fazer).
Hummm, eu sei que na foto não parece emaranhado, mas a primeira poda assusta qualquer um!

No início de janeiro ficou assim:(base do tronco: 3 cm; altura: 27cm


Espero para o próximo mês fazer um transplante verdadeiro, mas ainda não sei se devo continuar com o vaso atual ou usar um escorredor (suponho que o escorredor proporcione um desenvolvimento radicular mais fino e mais denso).
Agradeço desde já as vossas críticas e peço desculpa se tudo isto estiver fora do contexto do fórum.

Viva Carlos!

Antes de mais bem vindo aos tópicos de projectos.

Tenho que te dar os parabéns, pois fizeste as coisas correctas e diferentes do habitual, em que se tenta ter uma árvores com ramalhote e folhas para parecer logo um Bonsai e optaste por "deitar tudo a baixo" e recomeçar a fazer a estrutura de novo, além disso, acho que escolheste uma boas estrutura!

O meu reparo vai para a situação do vaso, no caso dos acer, será melhor trabalhares sempre com um vaso raso para construir ao mesmo tempo o nebari tipico deles!

Força com isso!

Olá Carlos,

Sangue novo, porreiro!

Falando sobre o ácer, acho que a evolução e as decisões tomadas foram acertadas. Tenho alguns comentários:

1) Há alguma discórdia entre os bonsaistas no que diz respeito à defoliação. Por exemplo, o Mário acha que se deve fazê-la e eu não (mas continuamos amigos). Nos deshojo em particular acho que é contra-producente, uma vez que é uma variedade vigorosa e com ramos normalmente longos e grossos. Para além de não se ganhar muito com a defoliação (o crescimento novo normalmente não é mais compacto), acho que não vale a pena o risco. (A propósito, Mário, o teu deshojo, que veio do Luís Cunha, não será antes um Seigen? A ramificação parece-me demasiado delicada para deshojo...) Aquilo que eu faço é defoliar parcialmente, removo as folhas grandes durante toda a estação de crescimento, quando elas amadurecem, e corto com frequência cerca de metade das folhas das zonas mais congestionadas. Se gostas de áceres, talvez uma boa aquisição seja o livro do Peter Adams.

2) o ideal para melhorar o nebari é plantar estas árvores em caixas de madeira tão rasas quanto possível e muito largas (para as dimensões desta árvore, sugiro uma caixa quadrada com pelo menos 50cm de lado). É também útil usar akadama pura. Isso da leca e de alternativas do género é muito adequado para a maioria das plantas, mas é um facto (pelo menos no meu espaço) que os áceres se dão muito melhor em akadama pura, ou misturada com um pouco de kiryu.

3) é importante que os ramos, especialmente os mais baixos, ganhem calibre suficiente. Isso é incompatível com uma ramificação fina e compacta. Sugiro que deixes crescer livremente os primeiros ramos durante o tempo necessário para que engrossem, julgo que 2 ou 3 anos será adequado. Podes aramar, mas evita podar esses ramos (isso vai atrasar consideravelmente o engrossamento).

Cumprimentos,
Pedro

Obrigado a ambos pelos vossos comentários.

Quanto à defoliação, pelo menos este ano se fizer algo será parcial. Talvez quando a árvore começar a apresentar alguma maturidade volte a tentar, mas por agora é prematuro.
Quanto ao vaso, visto ambos concordarmos basicamente, farei uma caixa de madeira!
Quanto aos ramos mais baixos, é evidente que têm de engrossar “livremente”, mas pelo menos um pouco de metsumi para tentar evitar um tamanho de entrenós excessivo, parece-me conveniente…

Olá Carlos,

mas pelo menos um pouco de metsumi para tentar evitar um tamanho de entrenós excessivo, parece-me conveniente…

Foi precisamente por ter receio que quisesses fazer metsumi que disse:

Isso é incompatível com uma ramificação fina e compacta.

Quando se faz metsumi é impossível conseguir aumentar o calibre dos ramos; quando se deixa crescer livremente é muito (muito, muito) difícil conseguir entrenós curtos. Se o que pretendes agora é aumentar o diâmetro dos troncos, não é nada conveniente fazer metsumi. Claro que isto é algo que podes descobrir por ti próprio, através da experiência, mas custa tempo precioso...

A minha recomendação é crescimento livre em todos os ramos que precisam de engrossar. Quando os ramos tiverem calibre suficiente, cortas atrás, esperas nova rebentação e aí sim, como esta árvore é pequena, metsumi em força. (Outra solução seria fazer enxertos para ter controlo absoluto sobre o posicionamento da ramificação secundária, mas normalmente nos áceres isso não é necessário).

Cumprimentos,
Pedro

Ok Pedro, muito obrigado pela tua explicação!
Foi precisamente por não estar seguro de ser esse o procedimento adequado que fiz este comentário. Se ninguém me respondesse fá-lo-ia com certeza, mas com a tua resposta tão clara, não o farei (se bem que saiba que mais tarde algum terá de ser removido).
A minha pouca experiencia faz-me ter dificuldade em apreciar árvores com cicatrizes muito evidentes, que refletem um crescimento muito acentuado e uma redução drástica de tamanho (claro que há cicatrizes que me parecem belas).
Naturalmente prefiro ver uma árvore madura onde essas operações já estão dissimuladas, daí o medo de deixar crescer para depois cortar muito, mas de facto tenho consciência que por muito que possamos ler, só a experiência nos permite perspetivar determinadas evidências.
Uma vez mais, obrigado!